ELEGIA
Nem os dias longos me separam da tua imagem.
Abro-a no espelho de um céu monótono, oudeixo que a tarde a prolongue no tédio dos
horizontes. O perfil cinzento da montanha,
para norte, e a linha azul do mar, a sul,
dão-lhe a moldura cujo centro se esvazia
quando, ao dizer o teu nome, a realidade do
som apaga a ilusão de um rosto. Então, desejo
o silêncio para que dele possas renascer,
sombra, e dessa presença possa abstrair a
tua memória.
CÓPULA
No prado, onde as vacas imóveis,
esperam a passagem do combóio, ouve-se um ruido
de ramagens fustigadas pelo vento. Não sei se
é o outono que chega, ou se o verão ainda resiste
à chegada da breve estação. No entanto,
o combóio demora-se; e a vaca que não quis
esperar parou no meio da linha, como uma raiz
metafisica que se meteu na terra e a prendeu,
impedindo-a de fugir à investida da locomotiva.
(O resultado, meses depois,
foi um bezerro a vapor).